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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Saudades...

(foto retirada)


A um ausente
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Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
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Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
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Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
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Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste
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Carlos Drummond de Andrade
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Apesar de me considerar feliz por possuir tudo o que sempre desejei, um amor único e verdadeiro onde posso repousar o meu cansaço e enterrar a minha tristeza,
apesar de sentir-me abençoada por poder mostrar o que valho a cada dia que passo e, no fim, ainda ter direito àqueles abraços puros que só me consegues dar,
apesar de sentir que sou uma privilegiada por poder, após horas a mais de trabalho, regressar a um lar construído por nós e pintado agora com o eco das nossas vozes, decorado com pedacinhos de nós que o tempo irá eternizar e com o som das gargalhadas dela que a esse lar toda a vida consegue dar,
sinto-me muitas vezes prisioneira das saudades que insistem em não me deixar reencontrar-me comigo própria ou ser o que sou e não o que aparento ser...

Ferem tanto que me apetece simplesmente saltar até ao céu e arrancar desesperadamente de lá todas as estrelas que me pertencem... aquelas cujo brilho me põe, na escuridão acolhedora da noite, os olhos a brilhar no desejo absurdo e doloroso de as poder novamente abraçar... para assim, infantilmente, poder acreditar que, por instantes, ao passado poderia regressar, para de novo me sentir completa, com mais vontade ainda de Sonhar... bastava um abraço, um beijo, um toque, um simples olhar... e sei que toda esta Saudade iria atenuar!
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