uantas vezes não repouso o meu olhar no teu rosto e constato, tristemente, que o tempolentamente vai roubando de mim o bebé que já foste, a menina que és e que nem sempre tempo tenho para devidamente poder apreciar!
Quantas vezes não olho para ti e me invade um medo absurdo de não estar a ser a Mãe que sonhaste para ti... quantas vezes o medo de falhar me angustia e aperta o coração!
Quantas vezes as lágrimas espreitam quando verifico que sou incapaz de te proteger do Mundo, das pessoas, das maldades e das injustiças... quando constato que por muito que queira é-me inpossível evitar-te as lágrimas e as tristezas...
Quantas vezes me culpo, na minha natural e incontrolável impaciência, por querer que faças tudo correctamente, que ajas dentro das regras que eu considero importantes para o teu desenvolvimento enquanto pessoa...
Quantas vezes, quando ralho contigo, quando te falo num tom mais alto, sinto que me esqueço também muitas vezes que não passas de uma menina, de uma criança traquinas e irrequieta... e que deveria ser mais paciente!
Quantas vezes, quando os dias são mais desgastantes, sinto que não te estou a dar o melhor de mim?
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Revejo-me tanto em ti, pequenina... és tão parte de mim... tão parecida comigo em tantos aspectos...
Na tua teimosia, por vezes excessiva, que culmina, no entanto, numa meiguice enorme!
Na força da tua personalidade, na tua carência e constante necessidade da nossa presença!
Na facilidade em melhor conseguires expressar os teus sentimentos por abraços e beijos, carinhos e gestos ternos, do que propriamente por palavras...
Na tua imaginação fértil e nessa incontrolável vontade de sonhar!
Na tua paixão pelas letras, pelas palavras, pelas histórias de encantar!
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Qunatas vezes me perco a olhar para ti e me apercebo que rapidamente estás a crescer...
Quantas vezes ainda penso, a observar-te, como é possível eu ser realmente Mãe, como é tão prestigiante a assustador ao mesmo tempo, ter a responsabilidade educar e preparar para o Mundo (e se tu soubesses, meu amor, o quanto me assusta este tempo que ainda não chegou!) esta menina linda, de olhar terno e de uma doçura sem fim, teimosa e meiga, impulsiva e sonhadora, possessiva mas com uma enorme capacidade de dar, que a cada minuto vejo crescer, a ganhar asas para mais facilmente poder voar, sem mim!
Quantas vezes me pergunto se mereço esta imensa sorte, este valioso presente que a Vida me ofereceu... se estarei a cumprir devidamente o meu papel!
São tantas por vezes as dúvidas... sei que não sou perfeita... cometo erros, falho na minha tentativa desesperante de te querer salvaguardar, nem sempre sou paciente, nem sempre tenho a calma necessária, nem sempre consigo compreender que cresces mas que és ainda uma criança!
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Mas será, meu amor, que tu sabes que tudo o que eu faço, tudo o que eu digo, tudo o que penso, por muito errado que possa estar, é com o desejo infinito de te ver feliz?
Será que também tu me compreendes e perdoas as falhas, a impaciência? Será que entendes que contigo estou a aprender também a ser Mãe?
Que é um caminho repleto de dificuldades, mas cujo destino, a tua felicidade, é aquele com que sempre sonhei?
Que as tuas alegrias, as tuas descobertas, os teus sorrisos e gargalhadas são tudo aquilo por que sempre anseei?
Serei boa mãe? Quantas vezes me invade esta incerteza! Mas, bonequinha, uma certeza podes ter... sou certamente o melhor que consigo ser, o melhor que sei... e muito melhor ainda por te ter!